A família Stevanatto, dona de 50% da farmacêutica nacional Cristália, colocou sua parte do negócio à venda, apurou o Valor. A decisão, contudo, gerou um litígio com a família Pacheco, que tem os outros 50% do laboratório, fundado em 1969.

 

Na sua terceira geração, os Stevanatto contrataram o Itaú BBA para colocar a sua parte à venda. Com direito de preferência na compra, a família Pacheco achou que o preço pedido pela participação do negócio era muito alto e entrou com uma ação na Justiça para que a decisão pelo valor seja melhor arbitrado.

De acordo com uma fonte do setor, os Stevanatto pediram inicialmente cerca de R$ 9 bilhões por 50% da participação. No entanto, após as primeiras rodadas do data room, a família já estaria aceitando entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões.

Ao Valor, Ogari Pacheco afirmou que busca uma solução na Justiça para que se chegue a um valor justo pelo negócio, uma vez que sua ala da família tem interesse de adquirir 100% da companhia. No entanto, não há resistência deles, se outro sócio entrar. “O que está claro é que não queremos vender a nossa parte”, afirmou o empresário.

Pessoas a par do assunto afirmam que há um descompasso entre os sócios, uma vez que a terceira geração da família Stevanatto não tem a mesma visão estratégia que os Pacheco.

Nos últimos meses, empresas como EMS e Hypera chegaram a avaliar o data room, mas as conversas não seguiram adiante. O negócio chegou a ser oferecido para outras farmacêuticas nacionais, como Aché e Eurofarma.

Há, pelo menos, duas dificuldades iniciais para encontrar um sócio para o negócio. A Cristália é especializada em anestésicos, tem uma dependência muito forte do governo, uma vez que suas vendas são hospitalares e feitas diretamente para prefeituras, Estados e União.

A outra é o relacionamento da companhia com potenciais sócios que possam entrar na jogada. Com a família Sanchez, dona da EMS, a ala dos Pacheco não se dá bem. E isso ficou muito claro na segunda gestão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando o presidente tentou criar duas superfarmacêuticas nacionais. “Sanchez e Ogari Pacheco não falavam a mesma língua naquela época”, disse uma pessoa a par do assunto.

O que está claro é que não queremos vender a nossa parte” — Ogari Pacheco

Essa mesma fonte afirma que as negociações seriam difíceis para a entrada de um grupo estrangeiro por conta do compliance da companhia, uma vez que a empresa foi uma das que mais participou de várias Parcerias de Desenvolvimento Produtivos (PDPs) e teve esse movimento questionado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no passado.

O processo de venda está no início e ainda não se tem visibilidade de quando a transação será concluída, uma vez que há uma decisão da Justiça em relação ao questionamento do valor cobrado pela venda do negócio.

Um das fontes consultadas disse que, apesar de apenas metade da empresa estar no momento na mesa para negociação, poderá haver mais interesse por 100% da companhia. Hoje o filho de Pacheco, Ricardo, está na condução dos negócios.

O Laboratório Cristália conta com dez unidades farmacêuticas, sendo três no Complexo Industrial de Itapira (SP), uma em São Paulo, uma em Cotia (SP), uma em Pouso Alegre (MG), duas no Rio de Janeiro, uma em Cosmópolis (SP) e uma na Argentina. O laboratório atua também na produção de produtos dermatológicos estéticos, como a toxina butolínica. A empresa não divulga informações financeiras. O último dado público foi em 2021, quando a empresa informou o faturamento ficou em R$ 4 bilhões.

Procurado, o Itaú BBA, que representa a família Stevanatto, e a Hypera não comentam o assunto. O Aché também não se posicionou. A EMS informou que “não comenta rumores de mercado”.

Em nota, a Eurofarma informou que “está sempre atenta a oportunidades estratégicas, com foco principalmente nos seus planos de internacionalização e crescimento sustentável. A empresa não tem nenhum comentário a fazer em relação ao tema levantado, e acredita que a associação pode ter sido decorrente do fato das empresas serem sócias na Supera Rx. À exemplo de sua prática histórica, a Eurofarma manterá comunicação transparente com o mercado sempre que firmar acordos relevantes.”

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